25 março, 2011

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão." 
( Lixo e Purpurina/Ovelhas Negras - Caio Fernando Abreu)




¨Vai passar,tu sabes que vai passar.Talvez não amanhã,mas dentro de uma semana, um mês ou dois,quem sabe?O verão está aí,haverá sol quase todos os dias,e sempre resta essa coisa chamada¨impulso vital¨.Pois esse impulso ás vezes cruel,porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo,te empurrará quem sabe para o sol,para o mar,para uma nova estrada qualquer e,de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como ¨estou contente outra vez¨. (Metâmeros- Caio Fernando Abreu)

Trecho de Fora de Mim


“Não sei se as pessoas choram de forma diferente umas das outras,eu choro contraída,como se alguém estivesse perfurando minha alma com uma lâmina enferrujada,choro como quem implora,pare,não posso mais suportar,mas o insuportável é uma medida que nunca tem limite,eu chorei no domingo,na segunda,na terça ,em várias partes do dia e da noite,um choro de quem pede clemência,de quem está sendo confrontado com a morte,eu estava abandonando uma vida que não teria mais,eu sofria minha própria despedida,morte e parto,eu tinha que renascer e não queria,não quero.(...)Você alguma vez chorou por mim,você sofre a minha ausência,sente a minha falta?Estar sozinha nesta aflição me condói de mim mesma,é o labirinto do inferno,não há saída,não há saída,você não está me esperando lá fora,nem hoje ,nem amanhã.(...)Veja,já estou enxugando as lágrimas,procurando meu celular para fazer uma ligação qualquer,esses compromissos que a gente inventa para fingir que a vida continua. Marquei hora no cabeleireiro sem ter motivo algum pra ficar bonita.” (Martha Medeiros)


“Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras. Sou irritável e firo facilmente. Também sou muito calmo e perdôo logo. Não esqueço nunca. Mas há poucas coisas de que eu me lembre. Sou paciente, mas profundamente colérico, como a maioria dos pacientes. As pessoas nunca me irritam mesmo, certamente porque eu as perdôo de antemão. Gosto muito das pessoas por egoísmo: é que elas se parecem no fundo comigo."
                                 (Clarice Lispector)

20 março, 2011

"Fico quieto. Primeiro que paixão deve ser coisa discreta, calada, centrada. Se você começa a espalhar aos sete ventos, crau, dá errado. Isso porque ao contar a gente tem a tendência a, digamos, “embonitar” a coisa, e portanto distanciar-se dela, apaixonando-se mais pelo supor-se apaixonado do que pelo objeto da paixão propriamente dito. Sei que é complicado, mas contar falsifica, é isso que quero dizer. Quanto mais não-dita, melhor a paixão.”

(Caio Fernando Abreu)



"Tente. Sei lá, tem sempre um pôr-do-sol esperando para ser visto, uma árvore, um pássaro, um rio, uma nuvem. Pelo menos sorria, procure sentir amor. Imagine. Invente. Sonhe. Voe." 
                                                                                                                                                                                 
                                                                                                                                                                                     (Caio F A)

Jeito Simples de Ser



“O que a gente espera de um amor? Tudo. Que sejamos apoiados em todas as nossas decisões, que o sexo seja nada menos que exuberante, que jamais escutemos um não, que o humor se mantenha sempre elevado, que adivinhem nossos pensamentos (e não adivinhem quando eles puderem causar mágoa), que haja disposição para aceitar todos os convites, que nunca cansemos do rosto, da voz, do jeito do outro, que os dias passem leves e que sejam sempre como foram os primeiros, que o tédio jamais bata à porta, que não haja mal-entendidos, que não se economize nos beijos, que a vida cumpra o prometido: ser uma festa constante.

O que a gente espera de um amor soa a delírio, e por isso a frustração logo se instala. Não há como realizar nem metade do que idealizamos, e muito menos o tempo inteiro. Deveríamos esperar apenas uma coisa do amor, do nosso amor: o que ele puder nos oferecer.
Ele não vai topar ir a um concerto de música clássica, pois acha chatíssimo, e você então vai sozinha, e, sem pensar em revanche, aceitará dele um convite para assistir a um show de hip-hop numa casa noturna em que você jurou jamais colocar os pés, e de repente vai adorar o programa que terminará às 4h da manhã, horário em que você normalmente já está quase se levantando da cama para iniciar o dia.
Seu amor não vai oferecer beijos a todo instante, mas um dia acordará você com pétalas de rosa pelo chão do quarto e você não achará cafona, e sim brindará, com suco de laranja e croissants quentinhos, o fato de ainda ser surpreendida na idade em que está.


Ele não vai curtir a vida ao ar livre como você queria, se negará a montar num cavalo ou caminhar por uma trilha, lhe parecerá urbano demais, mas em contrapartida oferecerá um copo de vinho, um cafuné prolongado, um silêncio apaziguador que até parecerá coisa do campo, mesmo vocês estando no sofá da sala num prédio de 15 andares em meio a uma capital caótica.

Ele não vai conseguir realizar seu sonho de cruzar os Estados Unidos de carro, mas vai oferecer a você um passeio de barco por aqui perto, você que odeia barcos ou melhor, odiava. Ele não vai se vestir dentro dos padrões que você considera de bom gosto, mas vai impactá-la com uma originalidade à qual você não estava acostumada. Ele não vai dizer a frase certa na hora certa, e vai fazer você descobrir que não há frases erradas quando se fala com o coração. Ele não vai gostar do que você gosta, e você não vai gostar do que ele gosta, e a criatividade para descobrir prazeres em comum dará à relação um caráter insuspeitado. De um jeito mais simples, é possível amar aceitando o que é possível receber, sem sofrer pelo que foi sonhado em vão."


                                                       (Martha Medeiros)
"Quando começam as pontadas, fico paralisada de medo, raios-X dos meus devaneios,
motivos de sobra pra doer, a febre aumenta a cada emoção, as batidas aceleram ao ouvir teu sono, sei que dormes enquanto agonizo, eu te odeio na escuridão, eu sei é impossível sofrer a dois.De nada adiantaria tua preocupação,minha hora chega lentamente,e eu não pretendo te acordar,pra não te ver branco e sem voz,a me dizer adeus,eu não durmo, aterrorizada,porque a danada vem me buscar esta noite.
Eu espero, lingerie e lágrima,convulsão e testa suada,cabelos molhados, encharcados, pavor,são 4:20 da madrugada escolhida,hoje ela vem, hoje eu sei que vou,mas sem despertá-lo para o pesadelo,em que estou,é hora agora,o arrepio chega mansinho, meu corpo esparrama e na cama me vem a definitiva surdez...
Quinze pras oito da manhã.
Ainda não foi dessa vez !"
(Martha Medeiros)


Trecho de Divã

“…Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo. Eu bati a 200 km por hora e estou voltando á pé pra casa, avariada.
Eu sei,não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez este seja o ponto. Talvez eu não seja adulta o suficiente para brincar tão longe do meu patio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória, sem seqüelas, sem registro de ocorrência? Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada.
Não era amor,era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. NÃO ERA AMOR, ERA MELHOR”.
(Martha Medeiros)

18 março, 2011

Agradeça assim mesmo.

Você passa no vestibular e agradece a Deus.Você tem o garoto dos sonhos e também agradece a Deus.Você tem o emprego que sempre quis,tem dinheiro para gastar com o que quer,tem amigos com quem pode trocar confidências e tem parceiros de festa.Tem roupas caras,sapatos bonitos,computador,celular,play station,mp20,carros e já fez viagens inesquecíveis.Você também tem uma casa linda e uma família perfeita.Tem liberdade,tem amor,desfruta de uma imensa paz interior e tem sempre a atenção das pessoas que ama.Está em perfeito estado de saúde e normalmente as coisas sempre saem do jeito que você quer. E você sempre agradece a Deus.
E porque não agradecer também a Ele quando nem tudo é tão perfeito assim? Ou também pelas coisas simples que Ele nos dá?
Sabemos que é bem mais fácil se reclamar das situações importunas do que ver o lado bom delas. Se nem tudo está perfeito,paciência.Nada nunca será perfeito.Tudo tem sua hora e Deus sabe exatamente a hora e o merecimento de cada um.O tempo Dele é bem melhor que o nosso tempo,e Ele sempre enxerga muito além dos nossos limites e com isso determina a nossa vitória. Tem coisas que Ele dá para a gente aprender.E tem coisas que Ele só dá quando a gente aprende.

Chega de sentir-se grato só quando as coisas vão bem. Agradeça quando também não estão indo,porque é neste espaço de tempo que Deus está preparando algo melhor.
De uma forma ou de outra,agradeça assim mesmo.E tenha fé,muita fé. Sua recompensa chegará.